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Antologia Cardinal

texto preparado alguns dias antes

Como quase só tenho pensado em música ultimamente, retorno (pelo menos tento) a este blog para falar sobre uma belezinha que venho ouvindo nos últimos dias. Já havia ouvido anteriormente, mas não com a atenção merecida. Trata-se de Cardinology, lançado por Ryan Adams & The Cardinals em outubro de 2008 pela Lost Highway Records.

O álbum começa com o country-rock semi-acústico Born Into A Light, que já mostra o que há de diferente entre o Ryan Adams solo e sua campanha com os Cardinais. A voz, agora muito mais madura, ao passo em que RA alcançava seus 34 anos, foi captada de forma muito nítida. A presença marcante do slide de Jon Graboff dá um ar etéreo às canções, destacando-se nas belas Natural Ghost e Evergreen.

Recentemente, li uma entrevista do Eddie Vedder ao New York Times em que Ele falava de alguns artistas que sabem frasear com naturalidade, quase que inconscientemente (cita Lennon e McCartney, além de Sinatra e Joey Ramone). Algumas antigas (So Alive, Rescue Blues, Somehow, Someday, etc.) do Ryan Adams me faziam suspeitar que ele poderia ser um desses caras, mas agora é possível ter certeza. Os vocais quase punk em Magick e country em Fix It, Go Easy e na bela balada acústica Crossed Out Name, possuem frases muito melódicas e bem feitas, que soam familiares logo na primeira audição.

A cozinha não mostra nada de realmente diferenciado que mereça destaque. Mas confesso não sentir falta alguma de grandes riffs de baixo e ritmos quebrados na bateria. Não que esses elementos me sejam secundários, mas as guitarras de Neal Casal (um gênio) são um excelente backup para a já conhecida sensibilidade musical do Ryan Adams guitarrista (outro gênio). Isso fica evidente na música que, para mim, é a melhor do disco. Chama-se Cobwebs. Combina uma bateria grave e pulsante, quase tribal, com uma coleção de guitarras quase simplórias que se harmonizam de forma complexa, emaranhando-se como uma aranha tecendo sua cama, dando todo o sentido para o título da música. Overdrive no melhor estilo Pete Townshend em uma guitarra que soa abertamente, permeando toda a harmonia da canção; outra guitarra, limpa e aguda, quase repetitiva, marca o tempo ao fundo, enquanto uma terceira, com um reverb típico do rock clássico dedilha alguns acordes quase que aleatoriamente. O fraseado principal fica por conta de uma quarta e uma quinta guitarras saturadas que se costuram. E tudo se completa quando as vozes entram junto com um violão discreto, embora extremamente necessário.

Em suma, grande disco de rock, grande disco de country, grande disco de country-rock. Façam-se o favor de escutá-lo. E eu vou me fazer o favor de ouvir mais Neil Casal pra aprender a tocar guitarra.