Trata-se, aqui, de algo que escrevi no dia 25 de junho, numa noite de sábado, inspirado por ausências. O contexto ruim justificava a produção de algo tão desagradado. Demorei para postá-lo e, após um fim de semana que foi do céu inesperado ao inferno mais do que antecipado, este poeminha vem a calhar nesta segunda-feira de cinzas.
Eclipse em Dó
E o Sol se vai
... algo o cobre
não sei se a noite
pois a noite sempre passa
... algo o impede de ser visto
– escuridão profunda –
Daqui de baixo,
não se ouvem mais os sons
férteis da primavera
... subitamente chega
um inferno gelado,
desumano
... nada de Sol
– cadê mesmo o Sol? –
– procura na clave –
... não se pode vê-lo
não se pode ouvi-lo
não neste enclave
... só se ouve Dó
de quem não vê
– mas como?
em meio a tanta escuridão? –
o devir
... requer-se tempo
para que se acostume a ver
– mesmo em meio
a tanta escuridão –
que há devir
que há Sol
... mas o frio é intenso
faz parecer que o tempo congela,
não passa
– não passa, não –
e, pior, anda de Ré
... e, em meio a tanto "se",
exilamo-nos na escuridão
– cada um por Si –
– cada um preso em Si –
... sem saída
sem devir
... enquanto só há nuvens
e se encobre o Sol
... há só esterilidade
e solipsismo
É necessário desencobrir
chover
fertilizar
... para mudar de tom
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