Repost de inverno

Inspirado pelos eventos invernais, reposto um “clássico” de baixa qualidade com alterações pontuais. Trata-se de poeminha imaturo – quase pueril –, (mal) escrito no inverno de 2005 (precisamente, no dia 6 de julho), em contexto de impossibilidades muito parecido com o vivido atualmente. Transparece claramente minha perene dificuldade com rimas e métrica. Mas segue:
Rio polar

É chegado o tempo
A hora da colheita
E no inverno enfrento
Cada escolha feita

E todos os livros
só têm paliativos
E nada de desejos
Queria os teus beijos

Tudo o que colho
tem o gosto do sal
que me escorre do olho
Sempre como um fractal

E como sinto frio
Batendo meu queixo
às margens do rio
Querendo teus beijos

Mergulho de ponta
Sem ti não dei conta
Quero quebrar o gelo
Pensar não é derretê-lo

Pois todos os livros
só têm paliativos
E nunca desejos
Quero mesmo é teus beijos

Blue Monday

Trata-se, aqui, de algo que escrevi no dia 25 de junho, numa noite de sábado, inspirado por ausências. O contexto ruim justificava a produção de algo tão desagradado. Demorei para postá-lo e, após um fim de semana que foi do céu inesperado ao inferno mais do que antecipado, este poeminha vem a calhar nesta segunda-feira de cinzas.
Eclipse em Dó

E o Sol se vai
     ... algo o cobre
         não sei se a noite
                 pois a noite sempre passa
     ... algo o impede de ser visto
     – escuridão profunda –

Daqui de baixo,
     não se ouvem mais os sons
        férteis da primavera
      ... subitamente chega
               um inferno gelado,
                  desumano

... nada de Sol
     – cadê mesmo o Sol? –
     – procura na clave –
         ... não se pode vê-lo
             não se pode ouvi-lo
             não neste enclave

... só se ouve Dó
    de quem não vê
          – mas como?
             em meio a tanta escuridão? –
    o devir

... requer-se tempo
    para que se acostume a ver
    – mesmo em meio
       a tanta escuridão –
            que há devir
            que há Sol

... mas o frio é intenso
    faz parecer que o tempo congela,
       não passa
    – não passa, não –
             e, pior, anda de Ré

... e, em meio a tanto "se",
    exilamo-nos na escuridão
    – cada um por Si –
    – cada um preso em Si –
              ... sem saída
                  sem devir

... enquanto só há nuvens
    e se encobre o Sol
          ... há só esterilidade
              e solipsismo

É necessário desencobrir
                    chover
                    fertilizar
    ... para mudar de tom

Ressurreição (será?)

E tento voltar a publicar algo aqui. Valho-me, para tanto, de um poeminha (na verdade, mais uma tentativa caótica de desabafo no papel) escrito sob as luzes vermelhas da Whiskeria Berlim na melancólica sexta-feira 20 de maio, em uma noite contraditória.
Ode à Navegadora

 ... e, novamente, ao sul...
      ... não mais de nenhum norte, mas de
             um norte que parece distante demais...

 – dividido – por um lado, não querer
        lutar
 – não ter forças para lutar
        – por outro, não conseguir deixar de
        lutar
                            por aquilo que prometia
                                   – promete ainda –
                            ser o que é
                                   o inefável
                                   o numinoso

        ... mas o perigo é ser feito de númen
                                              porque do nume ao nêmesis,
                                                            sei bem,
                                              o salto é curto
– por isso, dividido –
              – e, por saber bem
                      do caráter fugidio do númen,
              ...
                  ... dividido e endividado
                      comigo, com Ele, com Ela
    ... meu tema épico, minha expedição

... mas tudo é processo...
              há objetivos, não se engane!
     (i want to be the bluebird singing
             singing to the roses in her yard)
... mas é processo, é pedra, é sol
                ... é bússola quebrada...

– sol e metal – difícil pensar
      em como o Exílio
                (um bastante específico,
                        o exílio dela, da terra prometida)
     vira Reino ––
mas é mesmo preciso
     imaginar Sísifo feliz!

     (there ain’t no bluebird
             that ever gets too heavy to sing)

–– e rola a pedra ––
–– navega a dor ––

Desejo

Queria voltar a escrever aqui. Mas acho que emburreci nos últimos anos. Por enquanto, tá difícil escrever algo grande o suficiente para colocar aqui e não no tuíter. Mas vou tentar. Já tô tentando, na verdade.

Antologia Cardinal

texto preparado alguns dias antes

Como quase só tenho pensado em música ultimamente, retorno (pelo menos tento) a este blog para falar sobre uma belezinha que venho ouvindo nos últimos dias. Já havia ouvido anteriormente, mas não com a atenção merecida. Trata-se de Cardinology, lançado por Ryan Adams & The Cardinals em outubro de 2008 pela Lost Highway Records.

O álbum começa com o country-rock semi-acústico Born Into A Light, que já mostra o que há de diferente entre o Ryan Adams solo e sua campanha com os Cardinais. A voz, agora muito mais madura, ao passo em que RA alcançava seus 34 anos, foi captada de forma muito nítida. A presença marcante do slide de Jon Graboff dá um ar etéreo às canções, destacando-se nas belas Natural Ghost e Evergreen.

Recentemente, li uma entrevista do Eddie Vedder ao New York Times em que Ele falava de alguns artistas que sabem frasear com naturalidade, quase que inconscientemente (cita Lennon e McCartney, além de Sinatra e Joey Ramone). Algumas antigas (So Alive, Rescue Blues, Somehow, Someday, etc.) do Ryan Adams me faziam suspeitar que ele poderia ser um desses caras, mas agora é possível ter certeza. Os vocais quase punk em Magick e country em Fix It, Go Easy e na bela balada acústica Crossed Out Name, possuem frases muito melódicas e bem feitas, que soam familiares logo na primeira audição.

A cozinha não mostra nada de realmente diferenciado que mereça destaque. Mas confesso não sentir falta alguma de grandes riffs de baixo e ritmos quebrados na bateria. Não que esses elementos me sejam secundários, mas as guitarras de Neal Casal (um gênio) são um excelente backup para a já conhecida sensibilidade musical do Ryan Adams guitarrista (outro gênio). Isso fica evidente na música que, para mim, é a melhor do disco. Chama-se Cobwebs. Combina uma bateria grave e pulsante, quase tribal, com uma coleção de guitarras quase simplórias que se harmonizam de forma complexa, emaranhando-se como uma aranha tecendo sua cama, dando todo o sentido para o título da música. Overdrive no melhor estilo Pete Townshend em uma guitarra que soa abertamente, permeando toda a harmonia da canção; outra guitarra, limpa e aguda, quase repetitiva, marca o tempo ao fundo, enquanto uma terceira, com um reverb típico do rock clássico dedilha alguns acordes quase que aleatoriamente. O fraseado principal fica por conta de uma quarta e uma quinta guitarras saturadas que se costuram. E tudo se completa quando as vozes entram junto com um violão discreto, embora extremamente necessário.

Em suma, grande disco de rock, grande disco de country, grande disco de country-rock. Façam-se o favor de escutá-lo. E eu vou me fazer o favor de ouvir mais Neil Casal pra aprender a tocar guitarra.

I’ll be back

Ho ho ho! e até o próximo ano

Meus caros (ou só o Rená), estou de partida hoje. Viajo para outro país e só retorno em 21 de janeiro. Para tentar manter algum contato com aqueles que temporariamente deixo em território nacional, criei um Flickr e tentarei postar fotos e/ou vídeos (na verdade, não sei nem se posso postar vídeos no Flickr, mas hei de descobrir se precisarei do YouTube pra isso). Espero conseguir fazê-lo. Acompanhem.

Por fim, apesar de achar que são só mais alguns dias normais com comida boa, desejo um feliz Natal e um ano novo melhor ainda para qualquer um.

Green Mile

Há dias em que a Câmara dos Deputados simplesmente não te deixa ir embora.


– Porra. Quase 23h já. Quero ir embora.

– Eu também. Mas o chefe tá preso numa conversa com o presidente da Casa, fazer o quê? – alguém me respondeu.

– Foda. Mas tu ainda tem coisa pra falar com ele. O pior é saber que fiquei aqui à toa. Como eu ia saber que o cara ia voltar a pé do Planalto? – um terceiro indignado, o motorista.

Vídeo engraçado, tema polêmico

Trata-se de produção utilizada pelo site Join The Impact para criticar a chamada Proposition 8. O tema certamente é controverso, mas não é minha intenção aqui fazer nenhuma discussão séria (não hoje, pelo menos), apesar de deixar claro que sou contra a proposta. Por enquanto, só quero passar o vídeo, que é engraçado e conta com John C. Reilly, Jack Black e um dos meus atuais ídolos da comédia, Neil Patrick Harris.

Não consegui o vídeo no YouTube, então clique aqui para vê-lo no site do Join The Impact.

Mais beleza

Música bonitinha. Clipe bonitinho, muito bem feito (direção de Zach Braff). Tem um ar bacana. Dá vontade de tocar violão no interior da Califórnia.

E Joshua Radin é muito bom. Qualidade nas letras e nos arranjos, elementos folk muito bem encaixados, emoção nas músicas, melancolia e alegria na medida certa.